Os Pequenos Mundos do Edifício Yacoubian, de Alaa El Aswany


Construído na década de 30 do século passado, o Edifício Yacoubian é um dos mais antigos da Baixa da cidade do Cairo e um símbolo de uma época. Neste livro, porém, é muito mais que isso. Por detrás da sua fachada de esplendor mas também de decadência, cruzam-se diariamente todo o tipo de personagens, que, com as suas contradições, dificuldades e sonhos ilustram a sociedade egípcia actual e a forma como as mais recentes décadas de história a marcaram. É assim que conhecemos Zaki Bei, o velho playboy aristocrata; Hatim, um homossexual que se arrisca a perder tudo num mundo cada vez mais intolerante; Taha, que é aliciado por um grupo fundamentalista ao ver frustrada a possibilidade de realizar o seu sonho; ou Busayna, que é forçada a prostituir-se para ajudar a família; entre outras personagens. Alaa El Aswany aborda assim assuntos tabu como a corrupção, a sexualidade, o fundamentalismo religioso ou a desigualdade social, mas fá-lo num tom que é sempre isento de julgamentos, pois no Edifício Yacoubian não há pessoas boas ou más, há somente pessoas que perderam a sua inocência. Os Pequenos Mundos do Edifício Yacoubian tornou-se um dos livros mais vendidos de sempre em árabe.
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Devido à gentileza da Editorial Presença, tive o prazer de ler este livro e de, agora, vos transmitir a respectiva opinião.

Não é uma leitura marcante. Muito menos viciante. Não é um livro que vá ficar para sempre na minha mente, porque limitou-se a ser "mais uma leitura". Talvez porque a sociedade islâmica/egípcia não me fascine, talvez porque as diversas personagens não têm uma vida verdadeiramente cativante (por boas ou más razões), porém a verdade é que ler ou não ler este livro parece-me opcional.

Esperava personagens muito mais marcantes. Acho que o título engana um pouco. Que eu saiba, em inglês chama-se apenas "The Yacoubian Building", mas em português acrescentaram "Os Pequenos Mundos". Acho que estas últimas (primeiras no título) palavras fazem toda a diferença na expectativa do livro. Pessoalmente, "Os Pequenos Mundos" transmite-me algo tocante, profundo, é uma classificação com quase ternura. No entanto, o livro não é nada assim. É muito directo, sem floreados ou julgamentos, e o percurso das personagens não é propriamente viciante.

A verdade é que estamos perante um livro interessantíssimo. É tão directo que não se preocupa em ligações com o leitor. No entanto, para um livro relativamente pequeno, tem um potencial muitíssimo grande. É uma excelente e admirável descrição da sociedade egípcia, do Islamismo e da cultura dessa sociedade, que se resume no Edifício Yacoubian. Cada personagem serve apenas para resumir e descrever a vida nessa sociedade, perseguida constantemente pela desigualdade no emprego, por exemplo, ou por fundamentalistas de carácter religioso, ou por hábitos que ou vão contra ou a favor de quem tem o poder, quem monopoliza a vida dessas pessoas e as controla diariamente.
É uma obra muito interessante, pois dá-nos a conhecer um modo de vida diferente. É um retrato muito fiel da sociedade egípcia que se confronta diariamente com a mistura de culturas, islâmicas, muçulmanas ou ocidentais, conduzindo a confrontos diários e lutas pela sobrevivência. É impressionante para quem, como eu, se apercebe da enormidade desse controlo e do quão limitada e definida a sociedade pode ser, não dando oportunidade às pessoas de decidir o seu destino, por estarem presas a essas ideias por vezes estúpidas, mas que infelizmente existem e fazem com que quem está no alto da hierarquia espezinhe o miserável cidadão que não tem qualquer poder.

A mensagem não é, portanto, muito animadora, principalmente quando nos dizem que outros controlam o nosso destino e que pequenas insignificâncias podem manchar a nossa vida. E poderíamos transportar este livro para a nossa sociedade ocidental, cujos ideais são completamente diferentes mas estão lá (claro, os ocidentais não são nada comparados com a frieza, a crueldade e a direcção da sociedade que o livro nos apresenta). Não deixei, no entanto, de simpatizar com algumas das muitas personagens que habitam este edifício, esta sociedade tão oprimida. Acabei não muito tocado, mas pelo menos um final deixou-me com um pequeno sorriso, e porventura uma mensagem de esperança (porque, no meio disto tudo, ela ainda existe).

É um livro muito interessante para quem se interessa, principalmente pelo tema que tenho vindo a descrever. Aliás, é uma excelente descrição da sociedade. No entanto, realço que não me marcou profundamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Querido Pedro,

É sempre encanto aos meus olhos e coração ler tuas belas postagens...Parabéns meu anjo!
Deus abençoe você sempre.
Sou fã desse lindo cavalinho, ele é mto fofinho viu?
Beijo no coração.
Com carinho sempre,

CelyLua, Amiga e fã das tuas boas palavras...
Muito obrigada!