Desgraça, de J. M. Coetzee

David Lurie é um professor universitário de meia-idade, divorciado, que divide o seu tempo entre o desânimo das aulas e as satisfações momentâneas que lhe proporciona uma prostituta chamada Soraya. Quando a prostituta deixa de o atender, David dirige a sua atenção para uma jovem aluna, com a qual terá uma arriscada aventura. A denúncia da relação provocará um autêntico naufrágio existencial, que começa com a humilhação pública e o afastamento do cargo. David procura então a sua filha Lucy, que vive numa quinta numa zona rural, longe da Cidade do Cabo. Mas a desgraça continuará a persegui-lo...

J. M. Coetzee nasceu na Cidade do Cabo, África do Sul, em 1940. Desde 1971, é professor de Literatura na Universidade da Cidade do Cabo. Poucos escritores conseguem equilibrar como ele a reinvidicação da justiça social com as exigências técnicas e estéticas do romance. Recebeu o prémio Booker em 1983 com
A Vida e o Tempo de Michael K, e em 1999 com Desgraça. Destacam-se igualmente os seus romances Elizabeth Costello, No Coração desta Terra, À Espera dos Bárbaros, A Ilha, O Mestre de Petersburgo e A Idade do Ferro. Em 2003 foi-lhe concedido o Prémio Nobel da Literatura.
_____________________________________________________________________________________

Este é um livro muito forte, de um carácter psicológico e físico muito palpável.

Deu para notar que Coetzee adopta um estilo de escrita muito pessoal, por isso foi uma experiência de leitura completamente nova.

A história não podia ser mais desgraçada: um homem que comete o erro de ter relações com uma aluna e que acaba por ser perseguido por todos, e quando vai ter com a filha Lucy ao campo a desgraça continua a atormentar-lhe a vida, para mal dos seus pecados...

É um bom livro, e gostei da leitura. Compreendo a decisão do prémio Nobel, que certamente merece!
Ao longo da leitura, parece que somos envolvidos por uma atmosfera demasiado deprimente, por vezes cinzenta, desde o princípio. É um livro pequeno, mas o desenvolvimento da personagem principal mostra-nos dúvidas existenciais, dores físicas e psicológicas, tormentos consigo próprio e com os outros, e relações demasiado afectivas (mas que são tomadas com superficialidade).
Algumas partes do livro são bastante cruas para pessoas que procuram uma leitura mais "relaxada". Este livro não é nada relaxado. E o protagonista sofre com isso, com a humilhação e a relação consigo mesmo.

Uma vez que se passa em África do Sul, todo o livro se destaca também pelas referências aos inúmeros problemas racistas, e aos clãs que assolam o terror e ressentimento pelo país.

Gostei do livro. O autor tem uma maneira muito própria de escrever, e este é um livro cru, forte, de dúvidas, que nos fazem admitir o destino, que por vezes não é o que esperamos... Apele a muitos debates e a sentimentos. A vida como uma dúvida existencial, uma perspectiva de desgraça em que temos de enfrentar fisicamente os desafios ao longo do tempo.
Livro que merece a honra, por vezes brutal, cujas cenas muitas vezes nos incomodam pela frieza e simplicidade desmedida com que são descritas, enquanto que somos absorvidos desde a primeira página.
Um bom livro para a nossa biblioteca.

15 comentários:

Cristina disse...

Parece ser muito interessante, assim como todos os livros que saíram nesta colecção da Sábado.

Adorei a tua crítica e só de a ler fiquei também eu preparada para uma história meio tristonha, mas muito bem construída para nos levar a pensar.

Boas leituras!

Paula Abreu Silva disse...

Gostei bastante da tua opinião relativamente a este livro e ao escritor em si !

O facto de possuir um forte carácter psicológico e um estilo pessoal próprio foram as características que mais despertaram a minha atenção !

Sem dúvida alguma, uma sugestão a reter !

ccc disse...

Olá Pedro :) Que ritmo de leitura alucinante, invejo-te :D
Este livro parece-me muito interessante e fiquei mais entusiasmada depois de ler a tua opinião. Quero pegar nele em breve :)
Por enquanto tenho levado para a praia o Mancha Humana de Philip Roth, esta colecção é realmente fantástica.

NLivros disse...

De facto é um excelente livro que faz com que o interesse pelo autor aumente.

Ando de olho noutros livros dele, mas como os livros para ler na estante são tantos... mas sem dúvida um autor que tem jeito...

;D

pikenatonta disse...

Mais um livro que tenho cá em casa para ler... E por causa da tua opinião, penso que vai ser uma boa leitura!

a disse...

Pedro, é incrível como consegues demostrar a beleza de um livro. Opinas de uma maneira fabulosa e além disso fazes.nos/me sempre querer ler o livro de que falas.
Parece.me bastante interessante e, é mais um para adicionar à lista "A comprar"!

Bons momentos de leitura! :)

JPD disse...

Olá Pedro

Há autores que, estando na minha lista VIP, têm garantida por mim a aquisição e leitura anual de uma das suas obras.

O Coetzee é um deles.
Acho que escreve lindamente.

Este título ainda não comprei.
Não deixarei de fazê-lo.
Até lá proponho-me ler, também dele, «O HOMEM LENTO»

Obrigado ela sugestão.
Abraço

AnaD disse...

Excelente artigo de opinião ... fiz esta colecção da "Sábado", portanto este é mais um da pilha de livros para ler, aguçaste-me o apetite, mas será certamente mais uma leitura de inverno que isto os livros é como a roupa alguns são demasiado quentes e outros demasiado frescos ;)

Livros em 2ª Mão disse...

Andava a pensar ler este livro brevemente, e acabaste por fazer o reforço! :)

Sandra Silva disse...

Por acaso tenho este livro porque fiz a tal colecção e não estava decidida a lê-lo brevemente...
Talvez agora o faça. :D
bjs

Célia disse...

É um dos que tenho em fila de espera para ler... Parece muito bom!

Beatriz disse...

Não será um livro demasiado pesado e deprimente? O que sentiste no momento em que o acabaste de ler? Desculpa a pergunta, mas é que muitas vezes racionalizamos o conteúdo do livro, e o que sai pode não corresponder inteiramente ao nosso sentimento mais genuíno. (não sei se me estou a fazer entender... :s)
Pelo que disseste parece ser bom, sim, mas não será um livro que eu vá ler, se tem assim tanta desgraça.. :P mas sabes, comecei agora a ler Os Pilares da Terra! Vamos ver no que isto vai dar... ;) fica bem**

Pedro disse...

Cristina,
muitíssimo bem construída, e o autor tem uma escrita muito pessoal!

Butterfly,
se procuras um livro de forte carácter psicológico 8e físico também), e um autor que se distingue, então aconselho vivamente ;)

Sofia,
na verdade, estou mesmo a ler rápido, tenho tempo e vontade de "limpar" alguns...
Eu gostei do livro, muito maduro e diferente do que li ultimamente.
A colecção tem títulos cativantes, a ver vamos para quando será a leitura de Roth =)

Iceman,
como dizes, com tantos outros livros e autores, há que considerar bem... Talvez não vá ler outro livro de Coetzee brevemente, mas passei a prestar atenção ao autor. Não se trata de um qualquer!

Pikenatonta,
até é um livro fácil de ler, aconselho a leitura...

Beatriz,
bem, obrigado =) Fico lisonjeado, e ainda bem que se interessam pelas leituras. É para isso que cá estou ;)
Boas leituras para ti também!

JPD,
este título fez parte de uma colecção da revista Sábado, que aproveitei. Gostei muito, é um autor diferente, para mim. Distingue-se, sem dúvida, mas não sei quando voltarei a ler de novo outro livro dele. Mas estarei sempre atento.
(ficou a sugestão do título ;) )

AnaD/FG,
também fiz a colecção e há livros que me atraem sinceramente!
Compreendo que queiras ler livros mais leves, este até é fácil de ler ;) Mas é como dizes, há livros e livros, e nem sempre estamos virados para o mesmo.

Livros em 2.ª mão,
espero pela tua opinião ;)

Gota de água,
bem, é um livro fácil de ler e maduro, acho que merece a leitura.

Canochinha,
vá lá, este teve sorte em sair da fila... xD Mas achei muito bom, como já disse um livro maduro e um autor distinto!

Borboleta,
não diria pesado, mas cinzento; deprimente, sim, talvez. Quando acabei de ler, é curioso: senti o livro iluminado. Espantoso, hem? Um livro que tende para ser tão desgraçado tem as últimas páginas não cinzentas, mas luminosas! Interessante, deveras!
Fizeste-te entender bem, devemos até ter uma mente aberta para uma leitura. Acabei o livro com satisfação, e mesmo sendo pequeno depressa nos atinge.
trata-se de desgraça mas, vendo bem, apenas alguns acontecimentos que (aí sim) mudam a vida da personagem. A certa altura passamos a sentir que já não é tanto físico, mas uma luta psicológica. Fica aqui a sugestão ;)
Espero que gostes do que estás a ler, eu delirei! =D

Um grande abraço

Anónimo disse...

pedro confesso a ti q foi por acaso eu ter a sorte de encontrar teu blog.ao fazer um trabalho de pesquisa sobre o livro ivanhoe de walter scott q pra mim estah um pouco complicado e gostaria de saber o significado de romance historico e cavaleiros medievais.
ja que vç se expressa tao bem nas tuas opiniaoes e adimiro teus conceitos.talvez ateh possamos bater um papo!
espero resposta>
obg.

Pedro disse...

tatazinha,
Em primeiro lugar, obrigado por visitares e comentares!

Desculpa pelo atraso na resposta. Espero que vejas este comentário, uma vez que contactaste-me através desta opinião... E como não deixaste o mail pessoal...

De qualquer maneira, tentarei ser o mais resumidamente possível. Como não sei bem em que perspectiva estudas "Ivanhoe", é difícil explicar muito. Porque estás a achar complicado? Gostava de saber. Se achei o livro complicado, foi por lê-lo em inglês. Porque, de resto, até acho um romance histórico com um enredo relativamente simples, e não é por acaso que Walter Scott se tornou um dos meus autores de eleição!
Tens de ter em mente que conta a história da Idade Média. Não se trata apenas de um livro que descreve as aventuras e rivalidades das diferentes personagens, mas sim insere-as num ambiente real, passado e, supõe-se, verídico. Isso é um romance histórico, personagens fictícias ou não e a descrição das suas vidas, num ambiente histórico que é muito bem relatado. Neste caso (Ivanhoe), a vida da Inglaterra na Idade Média é descrita com minúcia e genialidade. Temos os cavaleiros, os hábitos da realeza, os torneios, e muito importante o destaque às diferentes classes sociais, às suas diferentes condições, realçando o papel de Rebecca e o seu pai, ambos judeus; as Cruzadas, os cavaleiros e a corte; as conspirações; a guerra civil.
Os cavaleiros medievais, pode-se dizer, "entregavam a sua vida" ao serviço da sua realeza na guerra. Dedicavam-se de corpo e alma às Cruzadas, conquistando e tendo apenas como recompensa o seu nome, e popularmente as donzelas que caíam de amores por eles. =) As Cruzadas popularizaram-nos, embora este livro não se debruce tanto nessa aventura, aconselho a leitura de "O Talismã" do mesmo autor ;)
Os cavaleiros lutavam. E viviam para isso. Participavam em torneios. Por vezes violentos. Digamos que a sua fama é parecida com a que os actores mais falados de hoje têm! A única diferença é mesmo as razões pelas quais são famosos.

Espero ter, de algum modo, ter ajudado no desenvolvimento do teu estudo... Boas leituras!