Morte na Picada, de Antunes Ferreira

Os enredos de Antunes Ferreira são dominados por uma urgência vital feita de sexo ou de sangue (muitas vezes de ambos), tratando-se quase sempre da obsessiva ausência de um e da opressiva presença de outro, com personagens apanhadas, de ambos os lados do conflito, por uma trama de que não são responsáveis mas a que não conseguem fugir. Muito se tem discutido sobre a verdadeira designação deste conflito: guerra colonial, guerra de África ou guerra do ultramar. O autor propõe-nos um outro conceito: guerra civil. Os que se batem são irmãos desavindos, com mais a uni-los do que a separá-los, pesem embora as diferentes tonalidades da pele. Não se trata do grandiloquente Portugal uno e indivisível de Salazar, mas de um traço de comum entendimento forjado de afectos quotidianos que as circunstâncias da História acabariam por romper. Não poderia talvez ser de outra maneira. Mas todos nós olhamos com nostalgia para o conto final, dos dois inimigos que no meio do mato se descobrem cúmplices em torno de uma boa refeição, antes de serem abatidos pelos tiros de quem rejeitava qualquer hipótese de reconciliação.

JOAQUIM VIEIRA

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Não sei que dizer deste livro.
Parece que tenho uma opinião um pouco ambígua... Mas creio que esta leitura foi tempo desperdiçado.

Em primeiro lugar, como ficção, deixa-nos a chupar no dedo... Muito a desejar.

Depois, demasiado palavreado que não serve para nada, e torna a leitura tão entediante e aborrecida...
Em cerca de 30 short-stories, umas 5 são do princípio ao fim interessantes. Todas as outras, apenas têm de interessante os últimos dois parágrafos!

Além disso, não sei se é mesmo o tipo de escrita do autor, mas a uma certa altura já estava farto de ler sobre sexo e asneiradas seguidas. Será que fez isto para tornar a leitura mais "descontraída"? Se sim, falhou redondamente.

Mas basta do mau e avancemos para o bom, se o conseguirmos encontrar... Pois, é que o livro fala sobre a guerra colonial, e tem informações imensas e muito interessantes, mas estão tão diluídas naquele palavreado que não cativam.
Nem a parte dos ataques parece fascinar.
No entanto, algumas coisas boas consegui reter. Trata-se de vários contos e cada conto apresenta-nos uma personagem, que pelo destino é arrancado para uma guerra que nunca quis, mas da qual não pode fugir. Esse foi o grande problema da guerra colonial: uma guerra injusta e sem nexo, porque quem a fazia, os soldados, estava-se nas tintas para aquilo, e só queria recuperar a sua antiga vida. Muitos deles deixaram sequer de viver.
Cada vez que acabava um conto, ficava a pensar, porque realmente os últimos parágrafos são, em geral, bons. Tudo o resto da short-story é uma treta. E dessa reflexão consegui caracterizar a guerra colonial, os soldados, e em alguns casos fiquei chocado com a brutalidade, a violência, e em poucos casos fiquei emocionado.

No entanto, não obstante estas características positivas do livro, foi uma perda de tempo pegar nele. Acredito que muitos gostem, principalmente os ex-combatentes! Mas como ficção não satisfaz, e para mim foi uma curiosidade que poderia ter sido menos prolongada... =/

13 comentários:

NLivros disse...

Lol.

Andas numa de banhadas, o que vale é que consegues ver sempre um lado positivo num mau livro.

Mesmo assim acho extraordinário conseguires acabar o livro.

Muito bem, siga-se outro.

Lê o Ulisses de Joyce. A sério!

;D

Célia disse...

Não me parece que algum dia vá pegar neste livro...

Anónimo disse...

Andas com pouca pontaria :) Em contrapartida, A Mancha Humana é muito bom. Excelente escolha!
Kika

flicka disse...

Pois, nem vou sequer pegar este livro...! :)

Ana Carolina disse...

Melhores livros virão..

O que estás a ler, para mim, foi um livro muito bom! Espero pela tua opinião!

Andre Martin disse...

Olá, Pedro.

Cheguei aqui através do seu comentário no Blog da Vivian, In FocO. Agradeço que tenha gostado da imagem/foto. Não foi mérito meu, é todo da natureza privilegiada!

Achei muito interessante sua imagem de identificação no blogger, um difícil encontro bem representado de terra, água, fogo e ar. Muito bom.

Depois volto para ler suas resenhas dos livros lidos.

http://mesdre.myblog.com.br
http://famainfame.blogspot.com
http://fractar.blogspot.com

anaaaatchim! disse...

Pedro, só a capa do livro é de fugir... e o tema não me fascina minimamente... depois de ler a tua opinião então :/

De qualquer forma és como eu... mesmo que não estejas a gostar lês até ao fim... afinal pode ser que sejamos surpreendidos :)

Pedro disse...

Iceman,
não é por nada, mas é que hei-de ler mesmo esse livro... =D Quando o encontrar, há de ser pela curiosidade... ;)
Pois é, realmente nunca posso depreciar completamente um livro, desde que me lembro que mesmo aqueles que detesto tenho sempre de referir algum aspecto positivo... Ainda bem que assim é =)

Canochinha,
acho que pessoas como nós têm mais que ler.

Anónimo,
pois é! ;D Realmente ultimamente tenho tido alguns livros de opiniões ambíguas... Mas "A Mancha Humana" está a ser muito bom!

Flicka,
há outras coisas para ler, ainda por cima com tantos livros em casa...

Ana Carolina,
of course que sim! xD
Estou a gostar imenso de "A Mancha Humana", mesmo o que queria! Estou a recuperar a motivação! =D

Andre Martin,
obrigado também pela visita ;) Comenta o que quiseres! =)
Realmente achei a foto linda... =) E tens razão, queria mesmo representar esse encontro! =D Bem ou mal, lá se arranjou... =)
Cá espero ;)

Anaaaatchim,
não acho a capa feia de todo... Mas o problema não é o tema não entusiasmar, entusiasmaria se o livro fosse mais cativante =P bah
É mesmo, se não acabar um livro fico sempre a pensar, com esse peso nas costas... É da maneira que o despacho logo! E o fim sempre pode ser bom...

Um grande abraço

Cidchen disse...

A neve é bonita, mas também é fria! *

Bjinhos*

Carla disse...

li o livro pelo significado que a guerra colonial (ou como a quiserem chamar) tem para mim..fiquei com uma sensação de "quase nada" naquilo que li
beijos

Vivian disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivian disse...

...já lestes Jesus O Maior Psicólogo Que Já Existiu?
Mark W. Baker

Fantásico!

obrigada pelas palavras carinhosas lá em casa...

sua visita sempre será uma honra...

bjssss, Pedro!

Pedro disse...

Cidchen,
mesmo assim deve ser fantástico viver aí! Eu gostava de emigrar e ter uma vida...

Carla,
a quem o dizes! Essa "guerra" está tão diluída no texto que nem se repara... Bah
Só consegui chegar a conclusões quando liguei todos os contos... Talvez aí se possa analisar um pouco, mas de resto foi uma leitura desmotivante!

Vivian,
ainda não li, mas parece que quando vir o livro pego nele ;)