Portugal, Hoje - O Medo de Existir, de José Gil

Esta nova edição acrescenta ao texto de Portugal, Hoje - O Medo de Existir um comentário em que José Gil analisa a evolução recente do país e as críticas que o seu livro recebeu. Seguem-se algumas das principais entrevistas que o autor deu a propósito de Portugal, Hoje.

Pensador difícil e denso, altamente criativo, capaz de inventar conceitos próprios, José Gil, com Portugal, Hoje adquire uma notoriedade assinalável.

Eduardo Prado Coelho,
Público, Fevereiro de 2005

Num livrinho de 150 páginas, quase de bolso, José Gil teve a humanidade de libertar o seu discurso do jargão académico e filosófico e descer à terra. O resultado é fascinante porque há muito que não se via, entre nós, um filósofo falar do real quotidiano de modo tão inteligente e, ao mesmo tempo, tão simples.
Rodrigues da Silva, J.L., Janeiro de 2005

Na análise de José Gil, Portugal é uma sociedade normalizada, onde o horizonte dos possíveis é extremamente pobre e onde a prática democrática encontra resistências ao aprofundamento.

António Guerreiro,
Expresso, Dezembro de 2004

Vasta ambição esta de José Gil tentando reconstruir toda uma tradição filosófica, quer levando até aos limites algumas das nossas tradições, quer opondo-se com determinação às que estão na própria origem da sua vocação filosófica, como a fenomenologia.
Eduardo Lourenço, no n.º especial do
Le Nouvel Observateur, de Janeiro de 2005, sobre os "25 Grandes Pensadores do Mundo Inteiro".
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As palavras que descrevem este livro são "O Medo de Existir", não "Portugal, Hoje". Porque, o que quer que pensem, não se trata de uma análise ao país, mas sim uma reflexão filosófica que vai coincidir, e como exemplo, em aspectos das características da personalidade portuguesa.

De lembrar que José Gil foi eleito um dos 25 grandes pensadores de todo o mundo, pelo Le Nouvel Observateur.

Este não é, de todo, o meu género de livro. Portanto, porque é que o fui ler? Primeiro porque tive vontade de experimentar algo diferente, depois porque foi dos únicos livros que o meu pai me aconselhou para ler já. Por isso, lá fui ler, e embora não me tenha arrependido não me parece que seja um tipo de leitura a desenvolver.

É um livro bom, sem dúvida, e concordei com muitas análises assim como discordei noutras. É, como disse, pura reflexão filosófica, uma tese em que o autor transmite ideias, conceitos, definições, e que acompanham a personalidade portuguesa, a maneira como Portugal se vai tornando numa sociedade de controlo e os portugueses continuam na mesma mó de baixo. A democracia é disfarçada e as pessoas não têm conhecimento suficiente para caracterizá-la ou sequer protestar. Não pude deixar de notar as ligações com livros como 1984 ou Admirável Mundo Novo!

Basicamente, a grande lição é a "não-inscrição". O livro fala-nos muito da tendência para o português deixar andar e nada do que acontece lhe influencia a vida. É por isso que não fazemos parte das correntes artísticas, é por isso que somos fechados, porque não tentamos mudar, não tentamos romper caminho!

Para quem gosta deste tipo de leitura, é um livro a aconselhar. Para quem é virado para outras coisas... Enfim, talvez seja menos excitante, mas um bom leitor, se se dedicar, não perde o sentido da obra. Aconselhem, leiam se gostarem do género, se não ponham em segundo plano.

15 comentários:

Célia disse...

Pedro, louvo a tua vontade de variar no que às leituras diz respeito! Eu própria tento pôr essa máxima em prática sempre que posso... Acho que é a melhor maneira de crescermos como leitores.

PS: Adorei o "Expiação" :)

anaaaatchim! disse...

Pedro, bem vindo de volta (as férias já começaram?)

Eu ainda não me sinto com muita coragem de sair da minha redoma literária, apesar de já ter comprado a "História Concisa de Portugal" e "Poesia de Fernando Pessoa" - que ainda não li, mas lá chegarei :)

De qualquer forma, tal como a canochinha, aplaudo esse teu gesto de procurar ler coisas novas :)

Pedro disse...

Canochinha,
se não fosse o incentivo do meu pai, nunca teria lido este livro!
É verdade, como leitores crescemos enquanto vamos variando de leitura.
O mais engraçado é que acabamos por ler mais livros doutros géneros além dos nossos preferidos (por exemplo, sendo adepto de fantasia, há algum tempo que não pego num livro desse género... Safo-me com os históicos!).
"Expiação" está a ser muito bom, excelente descrição e não consigo parar! =D

Anaaaatchim,
obrigado, a verdade é que tenho estado a estudar para os exames (e por isso tenho estado tão parado...=( ). Hoje, que precisava de vir ao computador, aproveitei para postar a minha opinião!
Lá chegarás, disseste bem, havemos de ler de tudo um pouco. Eu lá arranjei coragem para ler Portugal, Hoje, e não posso dizer que não valeu a pena.
Eu adoro Fernando Pessoa, por isso aconselho-te vivamente!
Vamos lendo, vamos lendo... =)

Hermínia Nadais disse...

Interessantíssimo e muito útil este blog. Admiro um jovem com tanta lucidez de ideias e tanta garra. Força, porque é destes homens que Portugal precisa para crescer em personalidade e querer, ou seja, em humanidade responsável.

Victor Figueiredo disse...

Elogioso e saboroso último comentário!
Também já li esse livro, concordo com a análise, mas achei-o, por vezes, demasiado teórico.

A Respigadeira disse...

Já ando há um tempão para comprar este livro.

Obrigada, mais uma vez, pela dica!

Beijinhos

Pedro disse...

Hermínia,
obrigado pelo teu querido comentário =)
És sempre bem-vinda ao blog. Obrigado pelas tuas palavras. Realmente, Portugal precisa de homens com garra e lucidez, o que remete um pouco a este livro!

V. F.,
sim, como disse trata-se de uma reflexão filosófica! Houve alturas em que me senti confundido, mas a ideia é captada. Como disse, óptimo para quem gosta.

Clara,
se gostas deste tipo de livro, aconselho-te vivamente. Se já andas a comprar à tanto tempo, então aproveita, lê!

Um grande abraço

JPD disse...

Olá Pedro

Esta sugestão de leitura que fazes é muito importante e muito oportuna.

Tratando-se de uma obra sobre a nossa idiossincrasia, sobre o que somos, poderíamos ser e... acabamos por não ser.

Corre por aí uma ideia que virá do tempo do Viriato, segundo a qual seríamos um povo que se não governa e também não se deixa governar.

Exagero, talvez.

A elevação com que Gil analisa a nossa maneira de ser está ao nível dos trabalhos de Eduardo Lourenço, de Vasco Pulido Valente (Apesar do seu radicalismo)e de tantos outros.

Recomdaria, como tu, leitura urgente desta obra.
À data da sua edição, li-a com inesgotável intresse.

flicka disse...

Este livro, já sabes, não é para mim! ;) Mas sobre isto: "...tendência para o português deixar andar e nada do que acontece lhe influencia a vida. É por isso que não fazemos parte das correntes artísticas, é por isso que somos fechados, porque não tentamos mudar, não tentamos romper caminho!"... infelizmente, é bem verdade! Olha, sobre a Mary Higgins Clark, qual é o livro que tens?
Boas leituras!;o)

pikenatonta disse...

Pois... também não faz o meu género mas também o li! Lembro-me que não gostei muito... Tal como tu dizes não é lá muito excitante se não estivermos virados para o assunto... ***

Pedro disse...

JPD,
é bom lermos a obra para, talvez, abrirmos um pouco a nossa mente e tentarmos ser menos fechados. Um exemplo recente: a greve dos camionistas. Embora as consequências começassem a ser visíveis, a verdade é que não fomos capazes de manter pé firme, coisa que aconteceu em Espanha (onde a greve continuou). Tivemos uma excelente oportunidade, mas para variar acabamos por deixar as coisas para trás e resolver tudo, e o pior é que continua em águas de bacalhau e as pessoas não "inscrevem" isso na sua vida. Se assim não fosse, se um acontecimento mudasse a própria vida, seriamos muito mais vanguardistas e confiantes.
Ainda bem que gostaste da obra. Esta 11.ª edição inclui um comentário e entrevistas que completam o texto e a sua interpretação, entrevistas muito boas.

Flicka,
pois, não é... =)
O livro de Mary Higgins Clark é "Um Grito da Noite". É daqueles da minha mãe, de capa dura, e um pouco esquecidos na prateleira. =/ É provável que, com o que já li, pegue nele um dia, por curiosidade.

Pikenatonta,
é verdade, ou se gosta ou se torna aborrecido.

Um grande abraço

João Filipe Costa disse...

"Há que séculos" não comento no teu Blog Pedro...
Mais vale neste comentário dizer tudo que tenho a dizer!

Ora bem a começar pelas tuas compras na Feira do Livro, tenho a dizer que foram excepcionalmente boas, tenho alguns deles como o "Titus", "Cartas ao Pai Natal" (o livro é uma delicia) e "A Muralha de Gelo" (livro excelente)!
Gostava de ter comprado o "Expiação" e "Tolkien o Homem e o Mito"
E a compra do Astérix foi fantástica!

Da promoção da Saída de Emergência nenhum me chama a atenção a não ser os contos de Lovecraft mas esse a minha tia já o comprou, interessa-me mais o primeiro volume que infelizmente está esgotado!

Quanto ao livro de Daniel Silva, ainda não li nada do autor por isso não faço ideia de como foi a tua experiência de leitura, mas sei que pelo enredo que descreveste parece ser um livro interessante de ler, eu que não costumo ler deste tipo de livros. Pareceu-me à primeira vista um pouco monótono, mas deve ter sido impressão minha (as primeiras impressões costumam estar sempre erradas).

Portugal, Hoje - O Medo de Existir, de José Gil, é um livro que já ouvi falar, e desde que soube que era uma reflexão filosófica, bem digamos que fiz “vista grossa”, talvez o leia depois de “Zen e a Arte de Manutenção de Motocicletas” de Robert M. Pirsig.

Grande Abraço

Pedro disse...

João,
ainda bem que voltaste, e espero que desta vez seja para ficar (pelo menos mais frequentemente) =D

As minhas compras foram a que eu mesmo queria, e também acho que tenha sido uma boa compra. Todos os livros que referes me parecem excepionais, também. Espera pela minha opinião de "Expiação", se quiseres, mas posso já adiantar que vale bem a pena!
Engraçado, esse livro de Lovecraft ainda não me atrai... =/

Sim, vendo bem é um bocado pró monótono, mas ao ler essa sensação desaparece com o suspense e a narrativa que se vai desenrolando à frente de nós. Aconselho a experimentares ;)

Muito bem, se estiveres para ler Robert Pirsig, prepara-te. É difícil, não escondo isso, e embora aconselhe poderás achar um livro mau, mas se gostares tenho a certeza que as tuas leituras vão mudar! Força!

Um grande abraço

João Filipe Costa disse...

Eu vou arriscar e quando vir o título: "Portugal, Hoje - O Medo de Existir, de José Gil vou comprá-lo!

Quanto ao livro "Expiação" espero ansioso pela tua opinião mas já que os Supermercados Continente estão a realizar uma feira e o livro vai estar com 40% de desconto vou aproveitar!

Grande Abraço ;)

Anónimo disse...

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